O casal de mortos dirigia lentamente pela ponte Pedro Ivo Campos. Mesmo a meia noite, o tráfego era lento. A Hercílio Luz brilhava em vermelho e púrpura, e sobre ela, a luz cheia pairava, indiferente ao sofrimento do mundo.
“Bela Lugosi's dead, unded, undead, undead”, disse o rádio. “Grande merda”, respondeu o vampiro.
Sua companheira, Diana, sorriu, exibindo as presas molhadas e vermelhas. No banco de trás, 2 exsanguinados dormiam o sonho dos perdidos.
“Esse lugar me deixa com um gosto estranho na boca. Cinzas e alumínio. Como se o fim do mundo estivesse atrasado e os cavaleiros do apocalipse estivessem reclamando dessa porcaria de trânsito”, disse o sacerdote. Patrick vestia uma jaqueta cinza recém-roubada e jeans rasgados que já viram dias melhores. Ele dirigia com ambas as mãos no volante e estava cansado. A viagem não tinha sido ideia dele.
“Meu amor, estamos de férias. Vamos aproveitar um pouco. Nem é tão ruim assim. Olhe lá, que ponte lindinha. Você não se sente enfeitiçado por ela?” Diana gargalhou. Ela lambeu o sangue que ainda lhe escorria dos dedos como se fosse uma gata e limpou as sobras na longa saia arrastão. Reclinou-se sobre o banco e esticou os braços tanto quanto pode antes de continuar “Logo as meninas vão chegar. Vamos nos divertir horrores. E vamos fazer seu ritual. E vamos adotar crianças e fazer essas coisas todas sorrindo e dançando, por que é isso que férias significam.”
Patrick grunhiu ao contemplar a ponte. Ele não sentia nada. Ele já não sentia nada há muito tempo. O ritual iria acontecer, cedo ou tarde, e isso o irritava. Esse não era o local correto. Diana sabia, mas não se importava. Não existem férias para o Sabá. Não existe nada que não seja a guerra.
Os vampiros permaneceram em silêncio enquanto atravessaram a ponte. Com alguma dificuldade, encontraram uma vaga de estacionamento. Abandonaram o carro e os corpos como presente para quaisquer que fossem os vampiros locais e saíram para a noite.
Não foi difícil encontrar o primeiro componente para o ritual. Guilherme Fritz, Toreador, idiota. Diana havia convencido-o de que eram anarquistas a procura de um novo lar, e que seriam muito gratos por quem quer que os apresentasse a baronesa local. Fritz insistiu que deveriam se encontrar em uma boate LGBTQ, mas desistiu quando Diana alegou ser uma Nosferatu.
Ela não era, é claro. Ela era algo muito pior. Mas o jovem Guilherme não existiria por tempo suficiente para reconhecer seu erro.
O encontro foi marcado para um heliporto no meio da avenida Beira Mar Norte. No caminho, Diana esculpiu seus braços disfarçadamente. Os ossos estalaram levemente quando romperam a pele e a Tzimisce suspirou com as veias estendidas.
O combate foi rápido e brutal. Quando o avistaram, o Toreador acenou e Patrick saltou sobre ele com o punho em riste, rápido demais para que ele pudesse reagir. A força do golpe o fez cair com as costas no chão, e um instante depois, uma estava óssea o perfurou e fez seu rosto ser congelado para sempre no grito doloroso do torpor.
O sacerdote brandiu o Atame, sua adaga de condução de ritos, e a enfiou na boca do vampiro abatido. Ele rasgou a gengiva e com a mão livre arrancou as duas presas. Sangue preto verteu da ferida e o jovem vampiro nada pode fazer para impedir o que se seguiu.
“Pra que lado é o oeste?” Disse Patrick, limpando o sangue da lâmina nas calças.
Diana fechou os olhos e apontou para o mar. “É pra lá, meu amor”.
Patrick ajoelhou-se, abriu o braço esquerdo com os dentes e derramou vitae sobre o concreto do chão. Com a poça que se formou, desenhou os nomes de Deuses mortos e abortados. Chamou-os um a um e eles foram testemunha do início do ritual.
***
Em outro noite, em outro lugar.
Patrick estava nu, exceto pelo colar feito de Guilherme. Sua companheira havia usado o estômago como cordão, e ossos dos dedos torcidos em runas e glifos de proteção.
O Toreador não estava muito contente com a situação. Pedaços dele adornavam vários cantos do altar. Suas pernas e braços não mais lhe pertenciam e a estaca de madeira de lei em seu peito lhe queimava a alma.
Diana, vestindo as sobras de seu jantar, agora era horror-feito-morte. Ela possuía longos chifres curvos e asas de couro preto. Quitina cobria sua forma horrenda e ela era parte inseto e parte Deus.
Seus braços eram terminados em bocas cheias de dentes e entre seus seios, as marcas talhadas pelo Atame do sacerdote pulsavam em um amarelo ocre e pegajoso. Seus quatro olhos eram imensos, focados, cinzentos e mortos, e seus joelhos dobravam-se como se ela estivesse preparada para voar.
Patrick orava com as mãos dispostas sobre a oferenda. Seus olhos eram órbitas negras e sua voz já não mais lhe pertencia. Seu cântico era o de línguas mortas, de potestades ausentes e de cinza e alumínio e o fim do mundo. Ele era um receptáculo e um canalizador. E ele olhava para o oeste.
Bem vindo, ilustre visitante. Esse é um lugar onde (vez ou outra) coloco contos de vampiro. Estou lentamente atualizando com histórias feitas com personagens da quinta edição do jogo. Boa Leitura.
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quarta-feira, 27 de março de 2019
quinta-feira, 9 de julho de 2015
Vestido de festa
Sou forma e movimento. Um eco na carne do firmamento.
Faço-me títere e início o rito. Eu costurava restos de condenados e almejava presentear nossa estimada criança com um belo vestido.
Imagino que ela tenha dificuldade em compreender a magnitude de meu trabalho, e quanto me é custoso esculpir algo que reflita uma carne que eu nunca toquei. Mas é um ritual e rituais precisam ser honrados.
Removo as omoplatas de um bebê mortal com uma carícia. Os ossinhos estalam e se contorcem, eram como manteiga derretendo sobre meus dedos. Ele geme e seus olhos se apertam, incapaz de entender e sentir. Obstruo suas narinas e lábios com pontos em xis e o sangue em meus dedos pinta-lhe a face. Em segundos os pulmões começam a falhar e espasmos suaves o tomam de assalto.
"Obrigado por me conceder sua doce carne, invólucro mortal"
Beijo sua testa e me ponho a devorá-lo. Seu sangue limpo e fino correndo por mim em uma torrente libidinosa de desejos rubros e libertadores. Seu coração cede com gentileza e o embalo em meus braços.
Frio, inerte, tranquilo.
Removo suas pálpebras em um puxão e agradeço-o mais uma vez antes de abandonar o corpo e me dirigir as outras doze crianças em que trabalharia naquela noite.
Perto de mim, o manequim ossudo e quente começava a tomar forma. Armazeno a pele roubada em uma de minhas bocas e faço de minhas unhas garras curvadas. Imagino o produto final e retorno ao trabalho.
Irmã, doce irmã, ficarás satisfeita com meu presente? Será ele a altura das expectativas que nutres? Será ele digno de cobrir sua forma imaculada quando a hora do rito chegar?
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quarta-feira, 4 de abril de 2012
História de amor dos mortos - Um abismo de promessas viciadas
- Acaso tu me amas, meu servo?
Perguntou o suserano, enquanto tentava recolher o intestino que insistia em escorrer pelo tapete felpudo, manchando a pele curtida dos escalpos das virgens para sempre ali acorrentadas.
- Sim, meu mestre. Eu te amo tanto quanto a força de teu sangue e tua feitiçaria me permitem, mas minha sede é alheia aos caprichos de teu laço rubro. Nesta noite, encontrarás tua morte final
Perguntou o suserano, enquanto tentava recolher o intestino que insistia em escorrer pelo tapete felpudo, manchando a pele curtida dos escalpos das virgens para sempre ali acorrentadas.
- Sim, meu mestre. Eu te amo tanto quanto a força de teu sangue e tua feitiçaria me permitem, mas minha sede é alheia aos caprichos de teu laço rubro. Nesta noite, encontrarás tua morte final
O velho rugiu, e o que deveria soar como um trovão mal passava de um chiado idoso e senil. Em seu silêncio contemplativo, Derek observava sua nova obra profana.
Naboslav, seu mestre amado e voivode destas terras, tentava alcançar uma perna que talvez não fosse sua. Haviam tantos pedaços de Slachta e de cainitas desafortunados por ali que era difícil ter certeza da origem de cada membro. Entranhas, braços, cabeças e outras partes menos reconhecíveis estavam dispostas sem seguir algum padrão especifico, dispostos ao acaso pelas mãos de um açougueiro descuidado. As mãos do Lasombra tremiam agora, tanto quanto tremeram quando ele ordenou que os cães do mundo morto rasgassem e partissem a frágil realidade daquele momento aterrador. Ele queria ajudar seu mestre, queria dizer que sentia muito, que tudo ia ficar bem, que tudo foi um erro cruel e que ele queria ser perdoado.
A força do laço perdurava, mesmo naquele instante de morte sublime.
Derek fechou os olhos e, falando na língua morta, chamou a escuridão. Uma nuvem pesada e viscosa engoliu velas gordas e pedaços de carne atormentada, e finos braços de piche se enrolaram em pedaços de carniçais de guerra há pouco abatidos, tirando-os do caminho.
Uma única parte do salão de armas conservava sua luz, um circulo claustrofóbico e trêmulo que em seu interior abrigava a carcaça quase inerte de Naboslav. Outrora, Naboslav o Koldun, agora, Naboslav o derrotado. O Tzimisce reuniu as poucas forças que lhe restavam enquanto colocava seus dedos no lugar. O indicador havia sido completamente dilacerado por uma das bestas do abismo, bem como parte da palma da mão esquerda. Ele avaliou a situação com cuidado enquanto procurava por sua genitália. Não, ela não estava em nenhum lugar visível. Por algum motivo alienígena ao ancião, seus testículos lhe faziam muita falta. Era hora de recorrer ao poder do laço, embora o velho tivesse certas duvidas a respeito da existência do mesmo.
- Me digas, meu filho, por que levas-te tua espada a meu peito? Acaso não lembras quem esculpiu tua lâmina em carinho e osso?
O Tzimisce sabia que sua habilidade com palavras amorosas era, na melhor das hipóteses, rudimentar. Mas era o que lhe restava, considerando o pouco sangue que ainda fluía por seu peito. De algum lugar da escuridão, a voz serena e melodiosa do Lasombra se projetou, fria e amarga como sempre foi, e ainda assim, tão majestosa quanto a descendência russa lhe permitia.
- Me chamas de filho, mestre.
O Tzimisce tentou conter o asco sem muito sucesso enquanto colocava no lugar uma costela que havia se dobrado em um ângulo muito improvável. Ele se lembrou dos lamentos de seus prisioneiros cristãos, da forma tola e fútil como gritavam e imploravam. Ele não ia implorar, não agora, nem nunca. Ele pensou em assumir a forma de sangue e fugir pela janela que estava em algum lugar da escuridão, pensou em tentar dominar a vontade de seu servo mais uma vez, mas mudou de ideia rapidamente quando ele surgiu do mar de trevas e cravou a lança em sua recém adquirida perna. A dor física era insignificante, a dor no orgulho, por outro lado, era intolerável. Sim, ele precisava implorar, precisava enganar esse bastardo maldito e então lhe arrancar a beleza osso por osso quando suas forças retornassem.
terça-feira, 27 de março de 2012
A história do amor dos mortos: Dragões e sombras sobre Dresden, parte um.
Onze de outubro de 1944
A velha despertou, e por todo o matadouro, gritos de agonia se fizeram ouvir.
Com deliberada leveza, ela ordenou que sua forma de carne deslizasse pelo campo de abominações, sorvendo vitae e lamentos das pobres almas que em sua tentativa de fugir da guerra encontraram a sede de uma monstruosidade milenar.
Duas centenas de mulheres, ciganos, desertores e crianças estavam atadas em uma simbiose profana e doente. No momento certo, eles se levantariam e formariam um exército de ossos e ódio. E então a Tzimisce os jogaria ao fogo e ao abismo, de encontro a morte certa em uma batalha que eles nunca desejaram travar. Mas isto não tinha importância. Adele cairia, e isso valia qualquer sacrifício.
Era uma promessa antiga e amarga que mais de uma vez roubou-lhe a convicção. E ela estava prestes a se cumprir. A pequena flor de ébano – para Kella flor de carne – deveria deixar de existir.
Era a peça que faltava. A velha explorou seu corpo e sua mente por mais de cem mil noites e alcançou toda a maestria que a potência de seu sangue grosso permitiu.
Faltava destruir um único grilhão, a ultima mácula em sua carne imperfeita.
Ela já havia sido dragão, cervo e mariposa. Já havia sido templo, torre e espada. Já havia tomado um numero infinito de formas e levado imortais de sangue forte a loucura pela simples contemplação de seu semblante. No entanto, havia um único paradigma que ela nunca ousou quebrar.
Em sua longa jornada pelos confins do oriente, a Tzimisce aprendeu com os demônios da floresta que a flor que nasce em uma clareira verdejante nunca é tão bela e imponente quanto aquela que desabrocha em um campo de cinzas e morte. A metamorfose não escolhe o sábio, o forte, ou mesmo o preparado. Ela vem de dentro pra fora. Ela escolhe o determinado.
Ela precisava desabrochar, e para isso, destruiria o único aspecto humano que restava em sua alma apodrecida.
A metamorfista sabia que precisava retornar ao tempo em que Derek, o único sob o firmamento pelo qual ela nutria afeto, não lhe significava nada. Ela precisava do ódio dele, e faria isso destruindo Adele, sua criança amada.
Em algum lugar próximo, uma massa de bocas e pavor gemia em uníssono, implorando por uma misericórdia que não existia. A matusalém destacou uma quantidade incerta de apêndices rombudos e compridos das paredes ossudas. Era hora de trabalhar.
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domingo, 15 de janeiro de 2012
A raiz de todo o mal, ato II: Lobos e leprosos
A indecisão tomou a vampira novamente. Ela já havia assistido as matanças de seu irmão mais de uma vez. Ele era um dos mais condecorados templários do sabá germânico e com toda certeza era o mais cruel. Seu senso estético sempre incluiu vísceras e entranhas o suficiente para chocar alguns anciões de sangue menos nobre.
Se ela o seguisse para a chacina, o que ela ganharia com isso? Mais pregos no caixão?
Ela já havia assistido recém nascidos serem presos ao ventre de suas mães, ela já sentiu a consciência falhar ao ver gemêos tornarem-se siameses e siameses tornarem-se quadrupedes profanos que usavam seus intestinos como chicotes.
Talvez ela não tivesse a coragem para ser uma Ductus do sabá. Talvez ela tenha nascido na família errada, na época errada. Ou talvez ela devesse agradecer a Freya e Baldur por ter sido trazida a morte por uma das lobas do norte, e não por um dos demônios do leste.
"Agradecer"
A sinfonia de gritos quebrou seu devaneio e a pôs em movimento. Ela imaginou a reação dos mortais a contemplarem a forma monstruosa do Tzimisce. Pavor, pavor puro. Quem seriam eles, afinal?
Fugitivos buscando abrigo no coração do sabá alemão? Espiões feridos? Almas inocentes trazidas para uma guerra que não lhes pertencia?
Havia pouco tempo para ponderar. O som de ossos partidos e lágrimas sufocadas lhe dividia a alma. Não havia o que se fazer, mas se ela não acompanhasse o irmão no combate, ela iria sofrer as consequências.
No sabá não há espaço para a misericórdia, não há espaço para corações que ainda batem com paixões por "cascas de carne".
Ela cruzou uma esquina e sentiu o sangue ferver embaixo dos olhos e transbordar. O pouco ar que ainda habitava seus pulmões foi expulso em um rugido gutural enquanto as unhas saltavam dos dedos e os ossos estalados formaram garras. Era, mais uma vez, hora de matar, pelo sabá, pela mãe Europa, e por aquele que, apesar de toda a mágoa, o Tzimisce ainda era seu amado irmão.
Sobre a forma monstruosa e familiar, estavam três criaturas caricatas e retorcidas, cobertas por trapos pretos que mal cobriam sua pele esponjosa e doente. Todos eles eram horrores especiais, formas destruídas pala maldição cruel dos leprosos de Caim.
Ela examinou a cena em um instante e calculou o angulo correto para o ataque. Por todos os lados pedaços magros e cinzentos de mortais estavam expostos como as carnes de um açougue. Entre o que um dia foram crianças, velhos e mulheres ela conseguiu distinguir alguns rostos partidos que não chegaram a ter tempo de perceber a armadilha em que tinham sido colocados.
Os mortos não eram prioridade agora. Os filhos de Caim eram os inimigos. Dos três que estavam sobre o Tzimisce, dois estavam fora de combate, as garras cruéis do vampiro penetraram seu tórax de encontro ao coração e agora os órgãos atrofiados sofriam com a pressão da força monstruosa do demônio.
Ele tinha seus próprios problemas. Em sua bocarra havia uma granada sem o pino. Um movimento e seria seu fim. E o nosferatu que estava sobre ele parecia disposto antecipar o momento. Os joelhos do leproso estavam presos nos espinhos ossudos do peito do Tzimisce, eles sangravam um liquido grosso e pegajoso que a Gangrel soube na mesmo hora se tratar de sangue semita. Era hora de agir.
"Heimdall, como tu eu sou responsável pela vigília da ponte da alma de meus irmãos, que eu seja como tua espada, e que em minha fúria eu parta os gigantes do caminho"
Ela sentiu o vitae correr por suas veias. Ele a fortalecia e renovava o calor que o beijo da morte havia lhe roubado. Com um comando mental, ordenou que seu corpo se movesse mais rápido do que o tempo.
Ela saltou, traçando um arco de morte em sua colheita profana. As garras entraram na base de sua coluna e traçaram um caminho doloroso pela carne cinzenta, rasgando ossos e tecidos podres e só parando na base das costelas. O peso do corpo da Gangrel foi o suficiente para arremessar o Nosferatu a quase dois metros de distancia. Com a queda, novos ossos foram partidos e os gritos de dor não puderam ser sufocados pela prudencia do vampiro deformado.
Ela afundou as garras enquanto rugia e mergulhava no caos da besta uivante.
"Grite, grite pra mim"
"Grite, grite pra mim"
Sangue para todos os lados. Era tudo conseguia ver e cheirar. Sua vontade se contorcia de pavor.
A vampira rasgou, mordeu e retalhou o leproso como se fosse um lobo sobre o cervo abatido.
"Mate, mate a todos eles"
Sangue e mais sangue. Vísceras putréfagas misturadas a intestinos e outras partes menos reconhecíveis eram dilaceradas com voracidade por garras e dentes famintos.
O rugido gutural que marcou o mergulho dos caninos poderosos no pescoço da criatura.
"Beba até que ele vire pó"
O êxtase rubro inundou o corpo da Gangrel, nutrindo-a com a paixão e o líbido que só em um momento da não-vida ela possuiu. O fluxo do elixir trazia-lhe a paz que a espada de Caim havia lhe negado. Era um instante de silêncio em meio a tempestade da alma. Era o fogo que queimava a garganta, fortalecendo e maculando a alma calejada da mulher.
Como todos os outros momentos de silenciosa contemplação da vida da vampira, ele acabou.
Ela sentiu a dor da alma do nosferatunosferatu, ao imaginar seu próprio corpo derretendo e sendo re-esculpido por um artista doente. Alguem como seu irmão.
Quando o controle do corpo retornou, ela estava de joelhos no chão, observando o sangue nas mãos e na alma.
Ela não sabia quantos cainitas ela já havia matado, mas este era o primeiro que ela sorvia até secar.
Embora não tenha sido a primeira vez que algo morreu dentro dela, esta foi a primeira vez em que ela tinha sido o catalizador.
A mão monstruosa de seu irmão tocou seu ombro e a pôs de pé; era hora de continuar.
Os dois não trocaram nenhuma palavra durante o percurso. Ela quiz perguntar a ele como ele se livrou da granada, o que aconteceu com os nosferatu, quem eram as pessoas mortas a seu redor, o que estava acontecendo com ela e uma infinidade de outras coisas. Mas simplesmente não havia energia o suficiente. Eles colocaram seus prisioneiros nas costas e seguiram viagem. Após duas horas sem encontrar ninguém pelas ruas de Munique, o Tzimisce quebrou o silêncio:
"Você lutou como uma Valquíria, Skadi"
Eram palavras ineficientes, calculadas. Ela se perguntou quanto tempo seu irmão levou para formulá-las.
"Obrigado Lars."
"Possuo a resposta para a duvida que lhe assombra"
A resposta para o que? Para a eternidade de brutalidade e sanguinolência há que ela foi condenada pelos caprichos de uma vadia que ficou excitada demais com o protesto de uma garota revoltada? Para a solidão eterna e o apodrecimento da alma? Para as leis impossíveis de seguir?
"Eu não tenho duvidas, meu irmão. Tenho apenas uma certeza"
Os dentes do Tzimisce encolheram e ele fechou a boca com extrema dificuldade. Os dois cruzaram mais duas quadras antes dele terminar de formular sua frase.
"E qual seria essa certeza, minha irmã?"
"Vocês são um bando de grandes filhos da puta."
quarta-feira, 11 de janeiro de 2012
A raiz de todo mal, ato I: Um passeio entre os mortos.
Sete de março de 1937.
Os dois mortos entraram na cidade em silêncio, carregando nas costas os espólios de sua vitória.
O primeiro era a morte encarnada. Duas fileiras de ossos grossos e pontudos esticavam-lhe a pele grossa e gordurosa das costas. A cabeça pendia para a esquerda como se ele estivesse possuido, a mandibula arqueada e primitiva era incapaz de conter as tres carreiras de dentes serrilhados e amarelos. Sua lingua era bífida e pegajosa, e sempre estava banhada no elixir rubro que conferia sentido a sua existência.
Os braços compridos e escamosos terminavam em mãos de três dedos enrugados e unhas compridas como punhais. E as pernas grossas e peludas eram curvadas como as de um sátiro, e os pés oleosos e cheios de póros sustentavam com dificuldade o corpo do guerreiro.
Era um estandarte – Um simbolo de glória – Nele estavam depositados séculos de tradição, o orgulho dos anciões e a força de um clã.
A segunda não era tão impressionante. Uma garota alta e encorpada de cabelos cor de cobre e sorrizo ferido. Seu corpo parecia sufocado no uniforme militar, e o pouco que sobrava de sua disposição esvaia-se com a perspectiva da caçada que era cada vez mais eminente. Ela mediu cuidadosamente as palavras e de súbito interrompeu a caminhada.
" Sabe maninho, seria muito mais simples atravessar a cidade se não ouvessem tantos gritos de pavor incontrolável a cada grupo de mortais que aparece no nosso caminho."
"Digo que não". A voz do Tzimisce era rouca e funebre, um silvo baixo que indicava a ela que neste momento ele era imune a seus apelos.
Ela teria forças pra protestar se não estivesse carregando as carcaças de quatro jovens "anarquistas" nas costas. Uma única haste de madeira atravessava o peito dos quatro, tornando o transporte ainda mais exaustivo.
O guerreiro, por sua vez, carregava uma massa de ossos moles e pastosos que, pelas contas da garota, deveriam um dia ter sido sete ou oito cainitas.
Aos olhos dela, isso tudo era um esforço inutil. Dachau tinha pelo menos trinta prisioneiros, Auschwitz, sessenta, e só Caim sabia dizer quantas almas infortunadas habitavam a "sala de troféus" do carcere da carne. Era estratégicamente inviável manter tantos inimigos tão próximos. Mesmo que a possibilidade de um ataque a um campo de concentração fosse extremamente remotas, elas ainda existiam.
Os anciões da liga orádea queriam o fim da ocupação imediatamente. Os feiticeiros de Viena podiam interromper seu silêncio a qualquer instante, e assim que a guerra interna dos Brujah soviéticos acabasse, eles poderiam dedicar-se ha uma nova empreitada.
Passos apressados quebraram seu devaneio. Ela proferiu um sibilo baixo e seu irmão respondeu imediatamente. Os prisioneiros foram depositados no chão com extremo cuidado, e a guerreira prostrou-se como um animal e começou a farejar.
Ela sentiu o cheiro da vitae e do medo. Estavam feridos e cansados, ouviu uns poucos sussurros angustiados e pela velocidade dos passos imaginou o armamento que carregavam.
"Doze. Poloneses. Mortais. Duas quadras ao oeste."
O guerreiro contraiu os ossos da coluna e fez duas pontas serrilhadas saltarem do lugar em que um dia houveram mamilos. Não houve tempo para perguntar se isso era necessário ou se era apenas uma luxúria. Em um segundo o Tzimisce iniciou sua corrida.
Para o desânimo da vampira, a noite estava apenas começando.
sexta-feira, 2 de setembro de 2011
Fragmento de cronica - O despertar do terceiro olho e o terapeuta Tzimisce
O que vou postar a seguir é a transcrição de uma parte de uma narrativa que aconteceu no começo do ano, pelo MSN.
A cena é basicamente um jovem salubri antitribu sendo torturado por um escultor Tzimisce. O personagem (Ivor) reagiu bem e interpretou o personagem de maneira um tanto quanto curiosa, e em breve postarei outros “pedaços” de minhas narrativas online.
Inicio
Suas pernas fraquejaram e você foi ao chão, a queda pareceu durar por varias horas, enquanto sua mente girava e se embriagava com lembranças de sua mãe.
Você abriu os olhos e a primeira coisa que notou foi uma lâmpada amarelada a cerca de 20 centímetros de sua cabeça.
Depois o frio.
Você estava deitado sobre um bloco de pedra, manchado de sangue, Seu sangue.
A pele de seu peito tinha sido removida, e você conseguia ver com perfeição seus órgãos putrefatos, e os vermes gordos que festejavam sobre eles. Eram centenas, milhares, criaturas microscópicas que se alimentavam de sua podridão.
Presos ao teto, ganchos de chumbo serviam de apoio para seu intestino, e dúzias de moscas pairavam sobre ele. Ao lado do bloco de pedra, uma criatura horrorosa, uma massa gigantesca de carne e ossos, parecia indecisa entre um bisturi e um picador de gelo.
Os longos dentes amarelados revelavam que ela tinha aberto seu corpo de maneira não muito gentil, e você deu graças a Caim por não ter estado consciente enquanto o açougueiro trabalhava em você.
Ivor
Fecho meus olhos. Experimento? Agora sou um experimento. Sou feito para uma autopsia. Irônico, um monstro fazendo minha autopsia enquanto ainda estou relativamente vivo.
Estou em um pesadelo real. Monstros, sangue, vísceras e podridão, eram apenas vistos nos filmes que eu particularmente não prestava atenção, agora sou eu aqui, fazendo parte disso tudo.
Dor? Há dor?
Narração
Existem sensações demais ao mesmo tempo, é difícil dizer se a dominante é a dor ou o horror. Os vermes diminutos começam subir por dentro de seu pescoço.
Ivor
Cerro os dentes, fechando a boca. Olho para o teto, mas não para minhas vísceras, tento organizar meus pensamentos, organizar tudo que sinto, preciso saber que é real, ou não, mas preciso me focar. Não me perder no horror... Não me perder no medo... Não fraquejar.
Narração
- Não se preocupe receptáculo, minha arte raramente é fatal.
A voz dele era um rugido gutural e metálico que pareceu sair das profundezas do inferno.
Aparentemente ele se decidiu com relação à ferramenta. Um filete de sangue escorre de sua testa.
O vitae desce e deixa suas pálpebras pesadas, chamando a atenção das moscas.
- Meu trabalho aqui tem como objetivo reconstruir você. Tirar as partes ruins.
A mão gorda e oleosa da criatura desliza por seu rosto, e dois dedos imundos entram em sua boca, ele aperta sua língua com força e a puxa pra fora de sua boca. ele corta a ponta dela, e o sangue que começa a escorrer quase te afoga, após soltar sua língua, ele começa a se mover vagarosamente.
Ele diz meio confuso:
- dois braços... Confere. Duas pernas... Confere. Três olhos?
- por que diabos ele teria três olhos?
Ivor
- Masx que porra é esxa?!
Cuspo sangue pro lado.
- Não era maix facil me perguntar?
*fecho os olhos para suportar aquela agonia*
Narração
Ele pega alguma coisa em uma estante, você ouve o barulho de um liquido se movendo, e ele diz:
- Eu te daria a opção de escolher a cor do olho, se fosse outra situação, mas esses que eu tenho aqui são velhos, e ha muito não são mais discerníveis... Sim, acho que esse é do tamanho certo.
Uma navalha passa por sua orelha.
Ela começa a cortar e a cortar.
- Só preciso de um pouco de cartilagem.
Ivor
- aaaarrghhh...AAAAAAAAAAAAAAAAA...FILHO DA PUTXA!
Narração
A criatura ri, ela parece estar se deleitando com seus gritos.
- acalme-se, tenho certeza que terei o resultado desejado antes de chegar aos testículos.
Alguma coisa começou a pinicar sua cabeça, de forma tremendamente insistente.
Logo depois, com mais um corte da navalha a com a força dos dedos do monstro, um buraco se abriu em seu crânio.
Você esta a ponto de desmaiar de pura dor, e os pequenos vermes começam a fazer cócegas em suas pregas vocais.
Ivor
- Masx...pr-...qu-...f-fa-zer...isx...isxo?
*cerrando os dentes de agonia*
Narração
- Como eu disse neto do neto do neto do sábio, estou reconstruindo você, tirando as partes ruins, as partes doentes, e as substituindo por novas.
Abrindo a enorme bocarra, a coisa cospe um óleo viscoso no buraco de sua testa, e logo depois, insere uma coisa esférica e gelatinosa na cavidade, sua pele foi puxada com violência, espremendo alguns vermes dentro de você.
O monstro diz:
- Não ha defeito maior que o medo, e esse eu não posso consertar, você é míope, por isso te dei mais um olho.
- Quanto a sua indecisão, sua ignorância e seu medo, bem, esses eu não posso consertar.
- Nós nos veremos de novo, neto do neto do neto do sábio.
Você mergulhou na escuridão novamente.
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contos - O mago morto (primeira parte)
3 de janeiro de 2010, 19:42.
Uma casa no topo de uma colina, em um lugar esquecido por deus.
Acho que nunca fui um garoto normal.
Deslizo meus dedos pela madeira da mesa de jantar, sentindo a memória dos mortos me violar e mais uma vez tentar tomar o controle sobre mim. O formigamento é suave, extasiante e incessante e meus dedos tremem enquanto as imagens de minha família me vêem a mente.
Os horrores da família Zerhesco se foram, e graças a minha magia, não irão retornar nunca mais, no entanto, a presença maligna de seus corpos e almas ainda é o suficiente para pintar de vermelho a aura que envolve esta terra.
“meu avô, será que um dia serei perdoado?”
O feitiço precisa ser refeito, e a hora se aproxima. Caminho lentamente por meu abrigo de criança, surpreso pela maneira como ele se manteve intocado, mesmo depois de quatro séculos.
“Dagon trabalha aqui”.
Retiro minha mão da mesa ancestral, e levanto com cuidado o castiçal da cerimônia. Sua base é feita de ossos amarelados de estupradores, o corpo de suas velas é da gordura de recém nascidos e seu pavio feito com os cabelos de suas mães. Tudo ali tem um simbolismo especial. Cada pedra das paredes, cada pintura demoníaca, cada entalhe na madeira, tudo que esta nesta casa profana já presenciou as mais obscenas crueldades, os mais perversos atos de maldade pura.
Tudo ali me lembra do que sou, de onde eu vim, e pra onde eu vou.
É minha casa, afinal, meu derradeiro refugio e meu eterno cárcere.
Era hora de iniciar o ritual. Eu levanto a adaga prateada e faço com que ela trace um arco curto e regular, de encontro a minha mão esquerda. A dor da ferida é grande, e o sangue escorre sobre o castiçal dos mortos. Eu recito o encantamento de comando, e imagino fogo.
As velas se acendem, vermelhas a principio, depois negras, depois, esverdeadas e doentes. A fumaça grossa e escura toma de assalto o ambiente, e, com mais uma palavra antiga, a primeira parte do feitiço se completa.
Os mortos ouviram meu chamado.
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