sexta-feira, 2 de setembro de 2011

contos - O mago morto (primeira parte)

3 de janeiro de 2010, 19:42.
Uma casa no topo de uma colina, em um lugar esquecido por deus.

Acho que nunca fui um garoto normal.
Deslizo meus dedos pela madeira da mesa de jantar, sentindo a memória dos mortos me violar e mais uma vez tentar tomar o controle sobre mim. O formigamento é suave, extasiante e incessante e meus dedos tremem enquanto as imagens de minha família me vêem a mente.
Os horrores da família Zerhesco se foram, e graças a minha magia, não irão retornar nunca mais, no entanto, a presença maligna de seus corpos e almas ainda é o suficiente para pintar de vermelho a aura que envolve esta terra.
meu avô, será que um dia serei perdoado?”
 O feitiço precisa ser refeito, e a hora se aproxima. Caminho lentamente por meu abrigo de criança, surpreso pela maneira como ele se manteve intocado, mesmo depois de quatro séculos.
Dagon trabalha aqui”.
Retiro minha mão da mesa ancestral, e levanto com cuidado o castiçal da cerimônia. Sua base é feita de ossos amarelados de estupradores, o corpo de suas velas é da gordura de recém nascidos e seu pavio feito com os cabelos de suas mães. Tudo ali tem um simbolismo especial. Cada pedra das paredes, cada pintura demoníaca, cada entalhe na madeira, tudo que esta nesta casa profana já presenciou as mais obscenas crueldades, os mais perversos atos de maldade pura.
Tudo ali me lembra do que sou, de onde eu vim, e pra onde eu vou.
É minha casa, afinal, meu derradeiro refugio e meu eterno cárcere.
Era hora de iniciar o ritual. Eu levanto a adaga prateada e faço com que ela trace um arco curto e regular, de encontro a minha mão esquerda. A dor da ferida é grande, e o sangue escorre sobre o castiçal dos mortos. Eu recito o encantamento de comando, e imagino fogo.
As velas se acendem, vermelhas a principio, depois negras, depois,  esverdeadas e doentes. A fumaça grossa e escura toma de assalto o ambiente, e, com mais uma palavra antiga, a primeira parte do feitiço se completa.
Os mortos ouviram meu chamado.
                                                                          ...

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