sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Conto - Sobre meninas e lobos

Esta postagem é o conto introdutório de uma história de D&D que criei a alguns meses atras. Eu escrevi a história e desenvolvi o jogo pra provar para um amigo relativamente elitista que qualquer sistema pode ser jogado como rpg de horror, independente do foco do jogo.Se os frequentadores do blog ficarem interessados eu publico o enredo da aventura aqui.

Eis a história:

Sobre meninas e lobos 

Os lobos sorriam enquanto devoravam minhas filhas. Os quatro monstros uivavam e celebravam o festim de carne que minha progênie havia lhes proporcionado. Seus olhos eram vermelhos e febris, e o frenesi que os abatia lhes dava ansia renovada a cada lambida luxuriosa que tocava a pele macia de minhas crianças. Algo dentro de mim morreu naquele dia, enquanto eu me escondi na carroça e observei os monstros mergulharem seus foçinhos peludos nas entranhas de Meggie e Leandra.
Elas continuaram sendo lindas, mesmo depois de terem seus cabelos e orelhas arrancadas pelos dentes de seus algozes. Elas continuavam imaculadas e perfeitas mesmo quando os lobos lutavam para decidir quem ia ficar com a coxa roliça de Leandra. Eles puxavam para todos os lados, rasgando a carne e rompendo os ossos, e mesmo neste momento, eu não consegui chorar.
Uma só lagrima seria barulho o suficiente para que me notassem e me matassem tambem, e eu não podia morrer antes de terminar meu relato. O lobo de pelo cinzento ficou com a coxa de Leandra, e os outros tres voltaram-se para Meggie. Um deles abocanhou grande parte de seu antebraço e começou a mastigar e roer lentamente enquanto os outros dois deliciavam-se para sua barriga. O cheiro de sangue e fezes tornou-se insuportavel, e mais de uma vez pensei que iria vomitar e revelar minha posição aos monstros.
Mas eu resisti.
Pareçeu durar uma eternidade, e quando finalmente acabou, os lobos se retiraram com toda calma do mundo, alguns carregando ossos como espólios de sua vitória sobre duas crianças indefesas. Quando finalmente sai da carroça, me dei ao luxo de vomitar até começar a cuspir sangue, e enfim pude chorar.
Eu chorei enquanto abraçei os ossos enpapados de sangue, chorei enquanto beijei o crânio roido de Leandra, e chorei quando esfreguei a mecha de cabelo loira em meus olhos, tentei acreditar que aquilo era mentira, uma ilusão cruel ou um sonho terrivel. Mas mesmo depois que meus olhos começaram a doer, mesmo depois de já não haver mais nada em mim que não fosse magoa e desespero, eu não consegui fazer nada que não fosse escrever essas palavras tortas e morrer.
Se você encontrar este testemunho silencioso do horror que assombra a região, por todos os poderes do mundo, por toda a justiça que ainda existe – busque vingança – esta é a suplica desesperada de um pai que perdeu tudo aquilo que amava, é o ultimo desejo de um homem que não deseja mais a vida.

Grato pela atenção,

Hunnest, filho de Ix’lan, herdeiro da grande casa de Meniarya.

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