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quarta-feira, 4 de abril de 2012

História de amor dos mortos - Um abismo de promessas viciadas

- Acaso tu me amas, meu servo?

Perguntou o suserano, enquanto tentava recolher o intestino que insistia em escorrer pelo tapete felpudo, manchando a pele curtida dos escalpos das virgens para sempre ali acorrentadas.

- Sim, meu mestre. Eu te amo tanto quanto a força de teu sangue e tua feitiçaria me permitem, mas minha sede é alheia aos caprichos de teu laço rubro. Nesta noite, encontrarás tua morte final

O velho rugiu, e o que deveria soar como um trovão mal passava de um chiado idoso e senil. Em seu silêncio contemplativo, Derek observava sua nova obra profana.

Naboslav, seu mestre amado e voivode destas terras, tentava alcançar uma perna que talvez não fosse sua. Haviam tantos pedaços de Slachta e de cainitas desafortunados por ali que era difícil ter certeza da origem de cada membro. Entranhas, braços, cabeças e outras partes menos reconhecíveis estavam dispostas sem seguir algum padrão especifico, dispostos ao acaso pelas mãos de um açougueiro descuidado. As mãos do Lasombra tremiam agora, tanto quanto tremeram quando ele ordenou que os cães do mundo morto rasgassem e partissem a frágil realidade daquele momento aterrador. Ele queria ajudar seu mestre, queria dizer que sentia muito, que tudo ia ficar bem, que tudo foi um erro cruel e que ele queria ser perdoado.

A força do laço perdurava, mesmo naquele instante de morte sublime.

Derek fechou os olhos e, falando na língua morta, chamou a escuridão. Uma nuvem pesada e viscosa engoliu velas gordas e pedaços de carne atormentada, e finos braços de piche se enrolaram em pedaços de carniçais de guerra há pouco abatidos, tirando-os do caminho.

Uma única parte do salão de armas conservava sua luz, um circulo claustrofóbico e trêmulo que em seu interior abrigava a carcaça quase inerte de Naboslav. Outrora, Naboslav o Koldun, agora, Naboslav o derrotado. O Tzimisce reuniu as poucas forças que lhe restavam enquanto colocava seus dedos no lugar. O indicador havia sido completamente dilacerado por uma das bestas do abismo, bem como parte da palma da mão esquerda. Ele avaliou a situação com cuidado enquanto procurava por sua genitália. Não, ela não estava em nenhum lugar visível. Por algum motivo alienígena ao ancião, seus testículos lhe faziam muita falta. Era hora de recorrer ao poder do laço, embora o velho tivesse certas duvidas a respeito da existência do mesmo.

- Me digas, meu filho, por que levas-te tua espada a meu peito? Acaso não lembras quem esculpiu tua lâmina em carinho e osso?

O Tzimisce sabia que sua habilidade com palavras amorosas era, na melhor das hipóteses, rudimentar. Mas era o que lhe restava, considerando o pouco sangue que ainda fluía por seu peito. De algum lugar da escuridão, a voz serena e melodiosa do Lasombra se projetou, fria e amarga como sempre foi, e ainda assim, tão majestosa quanto a descendência russa lhe permitia.

- Me chamas de filho, mestre.

O Tzimisce tentou conter o asco sem muito sucesso enquanto colocava no lugar uma costela que havia se dobrado em um ângulo muito improvável. Ele se lembrou dos lamentos de seus prisioneiros cristãos, da forma tola e fútil como gritavam e imploravam. Ele não ia implorar, não agora, nem nunca. Ele pensou em assumir a forma de sangue e fugir pela janela que estava em algum lugar da escuridão, pensou em tentar dominar a vontade de seu servo mais uma vez, mas mudou de ideia rapidamente quando ele surgiu do mar de trevas e cravou a lança em sua recém adquirida perna. A dor física era insignificante, a dor no orgulho, por outro lado, era intolerável. Sim, ele precisava implorar, precisava enganar esse bastardo maldito e então lhe arrancar a beleza osso por osso quando suas forças retornassem.

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

trecho traduzido - libellus sanguinus I - masters of the state

Aqui vai a primeira tradução postada no blog. Ela saiu de um dia de tédio em que eu estava procurando mais material sobre os lasombra. Comecei a folhear o Libellus Sanguinus I : Masters of the state e realmente gostei do que vi. Ele não seguia a tática de “livro pra vender livros” tão comum na White Wolf. Eu pretendo traduzir toda a parte referente aos lasombra do livro. Se alguém ai quiser ajudar vai ser bem vindo

Libellus sanguinus I :Masters of the state, paginas nove a onze

Livro um:
Magistrados
“Eu compreendo” disse Ibrahim com deliberada lentidão, “que Boukelphos ainda não terminou seus negócios nas terras dos ingleses” A mão do mouro deslizou preguiçosamente em conjunção com a fraca musica que ecoava da casa enquanto ele se virava para o parapeito e dirigia seu olhar para o mar.
“Ele não terminou seus negócios, meu bom Ibrahim”, o companheiro do mouro respondeu “é de seu prazer que ele agora segue com sua cria e acompanha seu treinamento” sentado e segurando uma taça que de longe poderia passar por sangue, Yusuf seguiu o olhar de seu amigo por sobre as águas. “Você esta realmente tão ansioso pelo seu retorno?”
A forma bonita de Ibrahim se contorceu em uma caricatura. “Não por seu bem estar, não, mas para ver um fim nesta brincadeira. Montano, os outros – mesmo nosso pai – os velhos não podem ser incomodados com este problema. Eles apenas riem e comparam toda a questão com alguma coisa que eles viram entre os romanos, e então eles voltam para suas danças e esquemas pelos próximos cem anos. Boukhelpos é o único com os pés neste século.”
O outro vampiro calmamente deslizou seu longo e fino dedo em sua bebida. “e você esta ansioso para aceitar a liderança do grego, apenas para ter estes assuntos resolvidos? Existe mais em você do que isso, meu amigo.” Ele levantou seu dedo da bebida e sugou gentilmente por um momento, e então retornou a sua contemplação estática.
O mouro levantou-se eloqüentemente “o que mais existe? Descobrir o que os de barba cinzenta gostariam que fizéssemos, e então dançar seus passos da melhor maneira que pudermos? Agir de forma contraria é convidar o longo sono, ou não é? Eu só quero terminar com essa brincadeira entre nós, as “crianças”. Nós rasgamos os olhos uns dos outros as dúzias, e por nada! Todos os nossos planos vão acabar em nada assim que Boukhelpos – ou uma das flores apodrecidas que posam como nossos anciões – parar de nos dizer o que fazer.”
“ E o que aconteceria”, disse o homem sentado, avançando com uma luz terrível em seus olhos, “se você pudesse mudar isso?”

Ibrahim roncou em descrença. “ Você ficou sozinho com seus poemas por tempo demais, Yusuf, o que eu poderia fazer?”
“Faça a decisão por eles. Unifique os jovens em sua bandeira. Presenteie Boukhelpos, quando ele terminar sua jornada, com um feito já realizado. Os velhos ligam tão pouco para nosso al-Andalus que vão ignorar sua disposição, então você não tem o que temer deles”
“mas agir assim seria usurpar-lhes o privilégio!”
“ou talvez eles deliberadamente criaram esta oportunidade, para ver quem seria apto a realizá-la” disse Yusuf.
“pode ser” o mouro voltou a contemplar o mar, observando a silhueta de um navio distante indo para a costa africana. “realmente poderia ser, mas, ” ele virou-se mais uma vez, “por que me contar isso, velho amigo? Nós somos da mesma idade no sangue. Porque passar este cálice para mim, ao invés de tomá-lo para si próprio?”
Yusuf se contraiu. “você acreditaria que é porque você é um melhor candidato? Eu sinto falta dos jardins e musicas de al-Mutamid, e dos poetas que eram convidados a ler para nós – esta era minha época, Ibrahim. Eu não sou um soldado ou rei, eu sou um mensageiro de uma corte há muito extinta”.
“paciência, Yusuf. Vão existir outros reis-poetas que vão ser agraciados com sua presença.”
“mas nenhum vai ser como Seville, um pássaro que escapou dos jardins de Allah para um canto vespertino na terra. Aqueles olhos, aquela boca...”
“e ele terminou suas noites dirigindo as mulas de seus conquistadores. Ah, bem, talvez não.” Ibrahim contraiu a testa. “mas você ainda não respondeu minha pergunta.”
Yusuf observou seu amigo por um longo instante. “Você realmente deseja saber? Muito bem, então. Eu acredito que a falta de ação de nossos anciões seja proposital. Eles estão nos testando, Ibrahim, tentando ver quem de nós vai aproveitar a oportunidade. Eles querem ver quem é apto a sobreviver. Os que falharem vão ser destruídos, como cavalos incapazes de correr quando os lobos se aproximam.”
“ou talvez” Ibrahim disse suavemente “eles desejam saber quem de nós pode eventualmente se tornar uma ameaça.”
Houve silencio por um longo momento. Yusuf depositou sua taça sobre a madeira polida do criado mudo e observou.
“talvez”, ele disse “eu não pensei nisso”.
“você não pensou?” Ibrahim levantou uma sobrancelha. “pelas barbas do profeta, Yusuf, você mente muito melhor do que isso.”
Yusuf corou – um ato muito humano – para o qual Ibrahim apenas sorriu. “oh, não seja tão sério, pequeno mensageiro. Agora posso ver o que você planejou – eu deveria trabalhar para unir nossos irmãos desunidos, e em gratidão por sua sugestão de iria mantê-lo próximo a mim. Então, quanto Delgado e Tariq e o resto dos antigos podassem minha flor com medo de encontrar uma raiz amarga, você estaria lá, meu humilde vizir, a escolha segura para assumir minha posição. É isso que você queria?”
Yusuf ponderou e deu um passo para trás. “Ibrahim, certamente você não pode suspeitar disso! Nós gastamos duas centenas de anos como amigos- toda a al-Andalus não seria tentação suficiente para trair isso!”
“provavelmente para o melhor então, poeta” o mouro alto disse enquanto virava-se de volta para o mar, “porque eu não acho que nenhum de nós vai ter al-Andalus para te oferecer” Uma brisa fria suspirou logo acima da água, e muito ao longe, dançou nas ondas. “uma tentativa interessante, Yusuf, mas você tinha mais sutileza cem anos atrás. Você esta ficando velho”
“E você também, Ibrahim. Cem anos atrás você teria me matado em mera suspeita.” Yusuf levantou sua taça e contemplou seus desenhos. “talvez seja  melhor assim.”
Ibrahim bateu  seus dedos ritmicamente no parapeito. “talvez seja. Então, Yusuf, quando você acha que Boukhelpos vai retornar?”