Era um exercício de crueldade.
A rainha do abismo se sentava enfrente a penteadeira toda noite, e toda noite ordenava que a escuridão lhe penteasse os longos cabelos negros.
Ela sofria, às vezes chorava, quando se lembrava de cada uma das noites horríveis que tinha passado em agonia e solidão dês de que sua amada partiu.
Odeio você Aldérvirth. Odeio com todas as minhas forças;
A verdade é que ela era muito emotiva para ser cardeal do Sabá. Ela tinha o coração partido e uma cicatriz tão profunda na alma que nem mesmo toda a paixão da espada de Caim era capaz de curar.
Mas era um exercício de amor também.
Aldérvirth soube lhe dar carinho em suas primeiras noites como filha de Caim. Ela vinha toda noite, compartilhar de sua sabedoria e lhe mostrar que ainda havia algo pelo que valesse viver. A simpatia de Aldérvirth era tanta que ela usava do legado ancestral de seu clã, a ofuscação, para sumir da frente do espelho, em solidariedade a maldição Lasombra.
Foi o amor que eu nunca tive em vida, o amor que os vivos me negaram.
As imagens do templo em chamas ainda flutuavam em sua mente, os gritos da cabala de Aldérvirth, o cheiro de pele e sangue queimados, os cavaleiros Ventrue, seus peões mortais.
“Viemos purificar esse lugar herege com a luz de nosso senhor, Jesus Cristo!”
A dor da lembrança ficava mais forte agora. Sua amada usou de sua magia para combater seus inimigos, e também para dominar a Lasombra e obrigá-la a fugir.
Ela ouviu o ultimo grito de dor de sua amada, e ouviu o rugido de triunfo de seu inimigo.
Ela ouvia esses gritou todas as noites, sempre que se sentava em frente ao espelho, e, toda noite, ela jurava que destruiria cada Ventrue e cada cristão desse mundo. Em nome de seu amor e em nome de seu ódio.
Não existem, nesse mundo ou em outros, muitas criaturas capazes de resistir ao ódio da rainha do abismo.
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