Era julho de 1945 e Os Três meditavam no salão de guerra.
Haringoth, Martelo do Norte, vestia sua pesada armadura noturna e repousava
sobre tentáculos de treva. Os três meditavam no conselho de sombras. Sua face era a de um
cadáver pálido e ossudo, ele não tinha cabelos e seus olhos eram fossos negros e
apodrecidos. Ele era um guerreiro de uma nobre linhagem do clã e casa das sombras, e era
o mais jovem ali presente.
Verminal, Mãe de Monstros, carne da danação e podridão da existência, era a manifestação
do sonho de um louco. Ela não tinha olhos, mas tudo via, não tinha braços, mas a tudo tocava.
Ela era uma massa pegajosa de ossos pueris e protuberâncias cancerosas. Havia uma boca em algum lugar
seu corpo, que constantemente sibilava palavras de poder em línguas perdidas. Era velha e cheirava
a sal.
A terceira, pequenina e frágil, era a união de tudo que havia de vil e cruel no mundo.
Adele, campeã das cortes de sangue, filha do Rimador, nobre de sangue e nome. Tinha cabelos
cacheados e dourados, olhos brilhantes e púrpura e trajava um delicado vestido funerário.
Ela morreu quando tinha dez anos, coisa que aconteceu uns tantos séculos atrás.
Ela não projetava sombras.
Ela não sorria.
Haringoth, inquieto, estalou o pescoço em um giro lento e teatral. Quando abriu a boca,
sombras cativas fugiram de seu hálito. "Meus exércitos queimam lá fora para lhe comprar
essa oportunidade, irmã. Não a desperdice."
Sua voz era fria e carregava consigo a força de um clã. Escuridão líquida escorria de
seus olhos e mesclava-se as carnes magras do rosto criando uma pintura mórbida e senil.
Adele, caminhando em linha reta nas pontas dos pés, com os braços abertos, equilibrava-se
em um jogo infantil. "Irmão meu, alguma vez eu falhei em manter minha parte da barganha? A hoste
será levantada uma vez mais, fortalecida pela pureza e força de nosso Sabá. Nós já vencemos. Você verá."
Verminal gargalhou.
Ao longe, algo morria gritando.
*****
Andrew era jovem e sofria de terríveis crises nervosas.
Era também um dos lideres de guerra mais competentes que o sabá já abraçou.
Ele estava apoiado entre as vigas do teto de um prostibulo que fora parcialmente destruído durante os bombardeios a Berlim.
Abaixo dele, sete soldados russos violavam uma mulher alemã. O Brujah estava faminto e ferido. Havia sido
atingido por um morteiro no confronto da noite anterior, pouco depois de enfiar as duas mãos
na garganta de seu senhor e abri-la horizontalmente.
Andrew se concentrou na dor e ordenou que ela o deixasse. Esperou por um instante de silêncio e deixou as mãos se soltarem.
Mergulhou e matou.
*****
Ele teve um nome uma vez. Teve também uma família e sonhos e essas coisas que gente tem.
Não mais.
Ele era agora uma parte quebrada da grande verdade. Carne nos caldeirões mentais dos mestres.
*****
As sagradas fogueiras queimavam por toda Alemanha.
Hardestadt havia caído e a torre de marfim agora era uma pálida lembrança de um inimigo
outrora tido como imbatível.
O sacerdote iniciava o cântico, banhado no sangue de mortos inocentes.
"Dagon, noite escura, manta minha, consagro a ti essa vitória, consagro a ti a chama do Sabá, consagro a ti a morte do mundo"
Dagon, morto e enterrado, sorria. O sacrifício era bem vindo e o sacerdote teve seu pedido atendido.
*****
Bem vindo, ilustre visitante. Esse é um lugar onde (vez ou outra) coloco contos de vampiro. Estou lentamente atualizando com histórias feitas com personagens da quinta edição do jogo. Boa Leitura.
sábado, 25 de julho de 2015
Noites Inquietas: Um breve prelúdio
quinta-feira, 9 de julho de 2015
O guardião de meu irmão
Meu ofício de sacerdote me trouxe até você. Afinal, não sou eu o guardião de meu irmão?
Chamo a treva e faço dela minha veste. Abandono o corpo e mergulho em pensamento. Sou uno com a singularidade que habita os espelhos dos caídos.
Clamo pelo poder invocando uma palavra morta e alcanço a visão. Uma criança esta sozinha e sua mãe esta sofrendo. A mãe sofria por não mais saber sentir e a criança chorava por ter fome e frio.
Extendo meus braços infinitos e toco ambas em realidades as quais elas eram alheias. O sangue se manifesta na mãe, protegendo pensamentos pesarosos e desejosos proibidos.
A criança, indefesa, treme e se encolhe. Eu e a vejo e a beijo e a conforto.
"Tú que és negra em sua semente, que sentou-se a minha mesa e bebeu de minha taça, por que choras? Acaso não se recordas que comungastes com a vontade do rei do firmamento? Tudo que tua alma alcança lhe pertence, pequenina, tudo que teus olhos de artífice imaginam existe em seu interior. Eu sou teu sacerdote, sou seu guardião, e ofereço-lhe minha mão direita. Aceite-a e venha até mim, e juntos questionaremos tuas trevas a cerca de teus tormentos. Tua vontade é soberana em teu corpo. Tú que és mais viva do que eu, levante-se e aceite meu convite."
Ela se agita, confusa. Seus olhos estavam manchados de vermelho e ela soluçava. Eu não sabia mais soluçar ou chorar. Eu estava completa e verdadeiramente morto, uno com a verdade que se esconde atrás dos espelhos.
Joan se levanta, trêmula e nua, e começa a caminhar pelo velho refúgio. Ela virá até mim com seu silêncio e sua mágoa, virá até mim com o amor que sente por minha doce irmã, e eu ouvirei, como sempre faço. Eu a ouvirei e pedirei ao abismo pela sabedoria necessária para servir a minha fiel.
Tomo forma de carne e ordeno que o sangue me aqueça. A fome ecoa em mim e mentalizo antigos campos de romaria. Penso nas grandes mortes e nos festins de carnificina de meus dias de jovem aprendiz.
As fogueiras dos rituais certamente que ainda ardiam, para outros pastores e outros rebanhos, e todos eles sentiam-se tão frágeis e despreparados para a guerra vindoura quanto eu.
A maçaneta gira e a porta de meu templo se abre. Chamo por Dagon por instinto e a luz que havia em mim morre gritando. Minha irmã entra, abraçando a si mesma e clama por meu nome.
Eu respondo criando uma tábula de treva ao lado dela e dizendo "Deite-se, irmã, deite-se e me conte o que te aflige."
Ela obedece. Todos sempre obedecem. Minha vontade não pode ser questionada em meu templo. Ela fecha os olhos e descansa seus dedos entrelaçados por sobre suas pernas lisas e pálidas.
"Perdoe-me por interromper sua meditação, Adalbrecht. Sinto-me confusa e não sei como proceder."
Sua voz era de uma docura doente. Leve e bela como só os jovens sabiam ser. Mordo meus lábios e umedeço as pontas de meus dedos no sangue quente da ferida. Na testa de minha protegida, gravo a runa de Phobos.
"Acaso não sou eu teu guardião, criança?"
Ela começa a falar e eu me faço vontade e oração.
Chamo a treva e faço dela minha veste. Abandono o corpo e mergulho em pensamento. Sou uno com a singularidade que habita os espelhos dos caídos.
Clamo pelo poder invocando uma palavra morta e alcanço a visão. Uma criança esta sozinha e sua mãe esta sofrendo. A mãe sofria por não mais saber sentir e a criança chorava por ter fome e frio.
Extendo meus braços infinitos e toco ambas em realidades as quais elas eram alheias. O sangue se manifesta na mãe, protegendo pensamentos pesarosos e desejosos proibidos.
A criança, indefesa, treme e se encolhe. Eu e a vejo e a beijo e a conforto.
"Tú que és negra em sua semente, que sentou-se a minha mesa e bebeu de minha taça, por que choras? Acaso não se recordas que comungastes com a vontade do rei do firmamento? Tudo que tua alma alcança lhe pertence, pequenina, tudo que teus olhos de artífice imaginam existe em seu interior. Eu sou teu sacerdote, sou seu guardião, e ofereço-lhe minha mão direita. Aceite-a e venha até mim, e juntos questionaremos tuas trevas a cerca de teus tormentos. Tua vontade é soberana em teu corpo. Tú que és mais viva do que eu, levante-se e aceite meu convite."
Ela se agita, confusa. Seus olhos estavam manchados de vermelho e ela soluçava. Eu não sabia mais soluçar ou chorar. Eu estava completa e verdadeiramente morto, uno com a verdade que se esconde atrás dos espelhos.
Joan se levanta, trêmula e nua, e começa a caminhar pelo velho refúgio. Ela virá até mim com seu silêncio e sua mágoa, virá até mim com o amor que sente por minha doce irmã, e eu ouvirei, como sempre faço. Eu a ouvirei e pedirei ao abismo pela sabedoria necessária para servir a minha fiel.
Tomo forma de carne e ordeno que o sangue me aqueça. A fome ecoa em mim e mentalizo antigos campos de romaria. Penso nas grandes mortes e nos festins de carnificina de meus dias de jovem aprendiz.
As fogueiras dos rituais certamente que ainda ardiam, para outros pastores e outros rebanhos, e todos eles sentiam-se tão frágeis e despreparados para a guerra vindoura quanto eu.
A maçaneta gira e a porta de meu templo se abre. Chamo por Dagon por instinto e a luz que havia em mim morre gritando. Minha irmã entra, abraçando a si mesma e clama por meu nome.
Eu respondo criando uma tábula de treva ao lado dela e dizendo "Deite-se, irmã, deite-se e me conte o que te aflige."
Ela obedece. Todos sempre obedecem. Minha vontade não pode ser questionada em meu templo. Ela fecha os olhos e descansa seus dedos entrelaçados por sobre suas pernas lisas e pálidas.
"Perdoe-me por interromper sua meditação, Adalbrecht. Sinto-me confusa e não sei como proceder."
Sua voz era de uma docura doente. Leve e bela como só os jovens sabiam ser. Mordo meus lábios e umedeço as pontas de meus dedos no sangue quente da ferida. Na testa de minha protegida, gravo a runa de Phobos.
"Acaso não sou eu teu guardião, criança?"
Ela começa a falar e eu me faço vontade e oração.
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Vestido de festa
Sou forma e movimento. Um eco na carne do firmamento.
Faço-me títere e início o rito. Eu costurava restos de condenados e almejava presentear nossa estimada criança com um belo vestido.
Imagino que ela tenha dificuldade em compreender a magnitude de meu trabalho, e quanto me é custoso esculpir algo que reflita uma carne que eu nunca toquei. Mas é um ritual e rituais precisam ser honrados.
Removo as omoplatas de um bebê mortal com uma carícia. Os ossinhos estalam e se contorcem, eram como manteiga derretendo sobre meus dedos. Ele geme e seus olhos se apertam, incapaz de entender e sentir. Obstruo suas narinas e lábios com pontos em xis e o sangue em meus dedos pinta-lhe a face. Em segundos os pulmões começam a falhar e espasmos suaves o tomam de assalto.
"Obrigado por me conceder sua doce carne, invólucro mortal"
Beijo sua testa e me ponho a devorá-lo. Seu sangue limpo e fino correndo por mim em uma torrente libidinosa de desejos rubros e libertadores. Seu coração cede com gentileza e o embalo em meus braços.
Frio, inerte, tranquilo.
Removo suas pálpebras em um puxão e agradeço-o mais uma vez antes de abandonar o corpo e me dirigir as outras doze crianças em que trabalharia naquela noite.
Perto de mim, o manequim ossudo e quente começava a tomar forma. Armazeno a pele roubada em uma de minhas bocas e faço de minhas unhas garras curvadas. Imagino o produto final e retorno ao trabalho.
Irmã, doce irmã, ficarás satisfeita com meu presente? Será ele a altura das expectativas que nutres? Será ele digno de cobrir sua forma imaculada quando a hora do rito chegar?
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Veiga e sua tempestade
Você é o sussurro sublime que anuncia a tempestade, meu amor, é o clarão em minha alma no instante do eco do primeiro trovão que rompe o mar noturno.
Eu, pecadora e culpada que sou, nada posso fazer além de contemplar sua forma doce e frágil, seus olhos disformes e sua inocência estuprada.
Sim, meu amor, roubei de ti tua mortalidade, para lhe dar a eterna singularidade de navegar comigo pelo mar negro do tempo.
Não peço perdão e não imploro por compreensão. Eu não sei sentir culpa. Eu não sei sentir nada que não seja você e me nego a implorar por qualquer coisa que não seja um gemido seu.
Minha Joan, minha criança, minha amante, seja minha nesse instante disforme de dor e libertação, seja minha em minha perversão, seja minha bonequinha indefesa em meu vício cruel e impar. Prove-me e desafie-me a dar mais e mais de mim até que eu seja uma casca seca, oca e debilitada, incapaz de qualquer suspiro que não seja carregado pela lembrança de teu doce aroma.
Você compreende, amor morto meu, como é custoso para mim te pertencer?
Você nunca me compreendeu, nunca sentiu o que eu senti. Nunca soube o que era estar verdadeiramente exposta em toda sua banalidade. E nunca vai saber, meu amor, tranquilize-se, eu lhe protegerei para todo o sempre.
É para mim um esforço hercúleo te tocar. Sua pele rompe meus dedos e faz a besta rugir em mim. Quero seu sexo e quero sua alma, quero te possuir com tudo que há em mim, mas em mim só a morte e dor e mágoa e tormento.
Temos que sempre existirá um vazio em meu peito por saber que você nunca saberá o que significou pra mim ter você comigo. Você, que é bela e jovem e viva de mil maneiras que eu nunca fui, jamais compreenderá o que é ser vil e feroz e errônea pelo simples prazer de assim ser.
E eu te amo, te amo tanto que creio que isso ainda irá me partir em duas, na sua Veiga, sua mentora, e no monstro horrendo e carniceiro que vive a espera da próxima oportunidade de causar dor e sofrimento.
Não tome minha franqueza por fraqueza, criança minha. Nosso fardo e nosso carcereiro. Espero que compreendas que é na noite escura que nosso amor se faz mais forte e que é no sangue que nossos votos nupciais são declarados.
Tú és meu sangue, és minha imortalidade. És tudo que existe de vivo em mim.
Sempre sua,
Veiga
Eu, pecadora e culpada que sou, nada posso fazer além de contemplar sua forma doce e frágil, seus olhos disformes e sua inocência estuprada.
Sim, meu amor, roubei de ti tua mortalidade, para lhe dar a eterna singularidade de navegar comigo pelo mar negro do tempo.
Não peço perdão e não imploro por compreensão. Eu não sei sentir culpa. Eu não sei sentir nada que não seja você e me nego a implorar por qualquer coisa que não seja um gemido seu.
Minha Joan, minha criança, minha amante, seja minha nesse instante disforme de dor e libertação, seja minha em minha perversão, seja minha bonequinha indefesa em meu vício cruel e impar. Prove-me e desafie-me a dar mais e mais de mim até que eu seja uma casca seca, oca e debilitada, incapaz de qualquer suspiro que não seja carregado pela lembrança de teu doce aroma.
Você compreende, amor morto meu, como é custoso para mim te pertencer?
Você nunca me compreendeu, nunca sentiu o que eu senti. Nunca soube o que era estar verdadeiramente exposta em toda sua banalidade. E nunca vai saber, meu amor, tranquilize-se, eu lhe protegerei para todo o sempre.
É para mim um esforço hercúleo te tocar. Sua pele rompe meus dedos e faz a besta rugir em mim. Quero seu sexo e quero sua alma, quero te possuir com tudo que há em mim, mas em mim só a morte e dor e mágoa e tormento.
Temos que sempre existirá um vazio em meu peito por saber que você nunca saberá o que significou pra mim ter você comigo. Você, que é bela e jovem e viva de mil maneiras que eu nunca fui, jamais compreenderá o que é ser vil e feroz e errônea pelo simples prazer de assim ser.
E eu te amo, te amo tanto que creio que isso ainda irá me partir em duas, na sua Veiga, sua mentora, e no monstro horrendo e carniceiro que vive a espera da próxima oportunidade de causar dor e sofrimento.
Não tome minha franqueza por fraqueza, criança minha. Nosso fardo e nosso carcereiro. Espero que compreendas que é na noite escura que nosso amor se faz mais forte e que é no sangue que nossos votos nupciais são declarados.
Tú és meu sangue, és minha imortalidade. És tudo que existe de vivo em mim.
Sempre sua,
Veiga
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Prelúdio para uma noite de trabalho
Vez ou outra eu me considerava o pior Ductus do mundo.
Eu sei que certamente não sou o pior, já estive na América e vi como aquelas piadas funcionavam, mas porra, não é um trabalho fácil.
Veiga estava puta com alguma coisa. Adalbrecht queria ir para a Grécia visitar um monumento de alguma merda. A novata era uma novata e Cicatriz estava ocupado trabalhando em algo que envolvia criancinhas e tripas.
E Devus estava sumido, pra variar.
Eu gostava do moleque. Era meio mole, meio indeciso, mas ainda era bom em improvisar. Aquele ar de "eu sou inofensivo demais pra que você preste atenção em mim" fazia dele um infiltrador dos melhores e apesar dele ser tão malkaviano quanto qualquer outro malkaviano do sabá, ele sabia raciocinar.
Mas ele sumia o tempo todo e isso me deixava puto. Mandei a novata atrás dele mas duvido que ela tenha muita sorte. Ela anda chorando e sofrendo e fazendo essas coisas que gente que morreu ontem faz.
Sempre culpei a musica dos anos oitenta por isso. Temos uma geração de molengas que ouvem musicas tristes e lamentam as dores da existência nas nossas linhas de frente por causa do The Cure e do The Outra Merda. Mas foda-se, as crianças da oposição são mil vezes mais choronas.
Adele vai nos convocar em breve. É impossível que nenhum bispo tenha ficado no caminho dela em seis meses. Katherine, a templária, me ligou uma semana atrás dizendo pra estarmos prontos pra matar alguma coisa na América do Sul. Tentei aprender o idioma e desisti quando descobri que existiam meia duzia deles e que todos soavam como um peixeiro polonês asmático tendo um infarto.
Meu telefone toca e meu devaneio é interrompido. Joan, a novata. Deixo a campainha vibrar três vezes e atendo.
"Meu Ductus, eu encontrei nosso infiltrador."
Puta merda.
"Conte-me mais, soldado."
"Ele está na Inglaterra, comigo, caçando um imortal. Diz que não pode retornar antes de confrontar seu inimigo."
Puta merda outra vez.
"Quanto tempo?"
"Não sei dizer, meu Ductus, perdoe-me."
"Matem logo e voltem, temos que trabalhar."
"Sim senhor."
Ela desliga e eu puxo um cigarro do bolso. Cogito por um instante agradecê-la por ter feito algo que duvidei muito que ela conseguisse fazer, mas desisto. Não estamos no sabá pra ganhar tapinhas nas costas. Estamos aqui pra fazer guerra.
Absorvo as informações com a fumaça descendo pela garganta. Devus, caçando alguém, tendo inimigos? Estamos em um trem em direção ao inferno e a entropia é a maquinista. Isso não faz nenhum sentido. Eles não são guerreiros, não foram treinados pra isso, o que será que eles tem em mente, ainda mais nas terras da coroa inglesa, onde tudo é procedimento, etiqueta e futilidade?
Envio uma mensagem de texto para um francês escroto que me devia um favor. Ordeno que ele proteja a novata e que tire os dois de lá inteiros. Mando outra pra veiga atualizando o status da missão da criança. Ela me responde um instante depois.
"Se ela se ferir, você morrerá mil vezes antes de eu me cansar de você, amado Ductus."
Não respondo. Sei que ela estava sendo sincera. Sei que cada vez que a recruta se move eu me fodo um pouco mais.
Termino o cigarro e o apago com a sola da bota. Acendo outro.
O telefone toca outra vez, da Alemanha. Meu estômago gela e atendo.
"Lorde Manoel Dias, Rio de Janeiro, Brasil, acusado de alta traição, conspiração e corrupção infernalista. O briefring completo te espera com seu contato no aeroporto Galeão. Reúna seu bando, você tem dois meses."
E silêncio. Apago o segundo cigarro e abandono o refúgio. Preciso matar alguma coisa, preciso ver sangue jorrar. Meu peito queimava e eu sabia que nos próximos dias tudo ficaria pior.
Eu odeio a porra do Rio. Odeio infernalistas e odeio ter que lidar com um bando que esta ocupado demais cuidando da própria não-vida pra poder lutar pra guerra em que se alistaram.
Avisto um ônibus de turismo ao longe. Chamo o sangue e removo uma placa de sinalização. Quando ele se aproxima, salto em direção ao vidro dianteiro e o parto com minhas botas. O metal urra e se contorce horrorizado quando o veículo tomba.
Todos gritam. Eu não.
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